A hora do vento

A hora do vento.


  Contribuição de George Santos / Estava tomando umas biritas na lanchonete de “Ló” que ficava perto do velório de Stº Amaro, tinha saído do ensaio da minha banda e o único local mais perto e barato era ali, foi quando chegou uns carinhas vindo de ñ sei onde, e um deles, cheio de bossa disse meio num tom de arrogância dirigindo-se para minha turma ,  Aposto que vocês ñ tem coragem de entrar ai dentro, eu dei uma risada meio sutil, fiz uma proposta :     Só entro se vc entrar também. Por coincidência o vigia do cemitério tinha vindo buscar uma garrafa de café e enquanto Ló estava coando o café dele, ele conversava com o Grande mestre, Sr. Malaquias que era o auxiliar de necropsias do IML que fica ao lado do velório, de vez em quando eu o ajudava a empalhar uns defuntos que ele pegava como extra. Pedi desculpas por atrapalhar a conversa deles, pois o vigia era um cara de poucas falas e meio sisudo. Então eu disse: Seu vigia, esse cara está querendo fazer uma aposta e disse que eu ñ tenho coragem de entrar no cemitério, pois eu disse que só entro se ele entrar também e quem chegar primeiro do outro lado na Av. Mario Melo, ganha a aposta. O Sr. Autoriza? Então o vigia disse: E o que eu ganho com isso? Quem perder paga a sua garrafa de café e um misto quente. Ai ele disse: Dona Ló faça um misto pra mim por favor. E ai disse eu, meio arrogante ao carinha: Topa? Ele pra ñ fazer feio diante da turma que tinha umas meninas, disse: Só se for agora! Então falei: Eu pago e vc também paga, e quem ganhar a aposta, Ló devolve o dinheiro OK ? Quando terminamos de aperta as mãos, Seu Malaquias me chamou de lado e disse: Jorginho, deixa pra entrar quando dé cinco pra meia noite, esse otário vai se perder e vai ficar lá dentro bem na hora do vento ( Hora do vento é justamente a meia noite, pois nessa hora, da uma ventania e é a hora que dizem, que as almas se libertam). Olhei pro relógio e faltavam 10 minutos. Falei pra ele: Espera ai, me deixa terminar minha cervejinha. Ele disse: Ta com medo? Eu dei uma risada. Péra meu veio, disse eu com um ar de sarcasmo, típico de apostador. O Vigia pegou sua garrafa de café, o misto e disse: Vou deixar o portão encostado. Nós iríamos entrar pelo cemitério novo. Olhei pro relógio e disse vamos lá? Pois era a hora exata, cinco pra meia noite. Falei pra minha turma, e para o pessoal dele ir pro Yohoho, um bar que ficava do outro lado, na Av. Mario Melo, local onde eu deveria esta saindo pulando o muro. Ao chegar no portão eu perguntei: Tu sofres do coração? A cara do menino era puro medo e nos nem tínhamos entrado ainda. Eu falei: Do tempo de desistir! Dei um perdido nele e peguei um atalho pela coreia, cheguei rapidinho do outro lado. Fui recebido com festa por meus amigos e por incrível que pareça, também pela turma dele. Meu amigo Fred perguntou: E aí cadê ele? Já havia se passado 10 minutos desde a hora que entramos e nada dele. O pessoal dele estava preocupado, foi quando ouvimos um grito de horror e então fomos correndo até o portão principal para tentar falar com o vigia, chamamos várias vezes e nada, e de repente apareceu o vigia com ele, dando risadas dizendo : Está vendo o que vocês me arrumaram. O carinha estava todo borrado, levamos ele para minha casa pois era a mais próxima dali, ele tomou um banho eu dei uma calça das minhas para ele e ele comentou com todos: Teve um momento que deu um vento forte e de dentro de uma casinha ( mausoléu) saio uma velhinha meio esquelética me chamando. E tudo que lembro e do vigia me levantado e reclamando do mau cheiro.

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